Chumbo

 PERÍCIAS TÉCNICAS

BOLETIM TÉCNICO – 98

O chumbo (CAS: 7439-92-1) é um dos metais mais abundantes encontrados na natureza, obtido principalmente a partir da galena (sulfato de chumbo – PbS). De cor azul-acinzentado, ele se funde a 327 graus centígrados, emite vapores muito tóxicos que, em contato com o ar, se transformam em óxido de chumbo. Seu ponto de ebulição se situa a 1.525 graus centígrados. Os principais compostos de chumbo utilizados na indústria são: carbonato de chumbo, cerusita (PbCO3), sulfato de chumbo (PbSO4), o cromato de chumbo (PbCr04) a crocoisita; o molibdato de chumbo (PbMo04) a wulfenita; o fosfato de chumbo a piromorfita, o litargírio (PbO), o zarcão (Pb3O4). Os compostos orgânicos mais empregados são: o naftenato, estearato, chumbo tetraetila e chumbo tetrametila.

SATURNISMO

O saturnismo é a intoxicação produzida por excesso de chumbo no organismo. O termo “saturnismo” é uma referência ao deus Saturno, idolatrado na Roma antiga. Os romanos acreditavam que o chumbo, “o metal mais antigo”, foi um presente que Saturno lhes deu e com ele construíam aquedutos e produziam acetato de chumbo, utilizado pelos aristocratas da época para adocicar o vinho. Acredita-se que essa mistura bombástica e a consequente intoxicação por ela provocada seria a causa da imbecilidade, perversidade e esterilidade reconhecidas de imperadores como Nero, Calígula, Caracala e Domiciano, este último construtor de fontes que jorravam vinho “chumbado” nos jardins de seus palácios. O mundo das artes também inclui vítimas famosas do chumbo, entre eles os pintores Van Gogh e Portinari (fonte: tintas), o vitralista Dirk Vellert (fonte: vidros coloridos) e o compositor Beethoven (fonte provável: tipografia das partituras).

FONTES DE RISCO

As propriedades de dureza e maleabilidade do chumbo têm determinado um aumento progressivo em sua utilização industrial. As fontes tradicionais de risco são: montagem de veículos, montagem e recuperação de baterias, soldagem, mineração, manufatura de plásticos, vidros, cerâmicas e indústrias de tintas, lacas, vernizes, oficinas de artesanato, fundição, acumuladores, estaleiros, indústria química, fabricação de munições, cerâmica, óleos pesados, inseticidas. Outros riscos que apareceram recentemente são os derivados da proteção contra as radiações ionizantes, a manutenção de túneis, em rodovias e o uso de estearatos de chumbo na indústria de plásticos, conferindo maior dureza e elasticidade ao produto.

LIMITES DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL (LEO) (ACGIH – 2017)

Chumbo e compostos inorgânicos, como Pb………………………0,05 mg/m³

Chumbo tetraetila, como Pb……………………………………………………0,1 mg/m³

Chumbo tetrametila, como Pb………………………………………………0,15 mg/m³

Cromato de chumbo, como Pb………………………………………………0,05 mg/m³

VIAS DE PENETRAÇÃO

Este metal pode ser introduzido no organismo através da inalação (ar atmosférico), ingestão (água, alimentos e solo contaminados) e por via dérmica. Os compostos de chumbo lipossolúveis e projéteis de chumbo quando alojados na pele e nos músculos permitem a absorção do metal.

No ambiente de trabalho, a principal via de absorção é o aparelho respiratório.

A deposição, retenção e absorção de partículas de chumbo no trato respiratório depende de fatores tais como:

  • Tamanho da partícula inalada;
  • Densidade;
  • Forma química;
  • Solubilidade;
  • Ritmo respiratório;
  • Duração da exposição;
  • Concentração de chumbo na atmosfera;
  • Susceptibilidade pulmonar do trabalhador, sendo mais importante durante o esforço.

Após absorvido, o chumbo não é distribuído de forma homogênea no organismo. No sangue o chumbo circulante está quase sempre associado aos eritrócitos, sendo em seguida distribuído aos tecidos moles (maiores concentrações no fígado e rins) e aos minerais (ossos e dentes). O osso é o principal compartimento onde se armazena o metal, cerca de 90% do chumbo encontrado no organismo está depositado nos ossos sob a forma de trifosfato.

Cerca de 90% do chumbo que foi ingerido, e que não se absorve, é excretado pelas fezes, em função de seus trânsito no trato gastrintestinal sob a forma de sulfetos insolúveis.

Aproximadamente 75% são eliminados através da urina. Apesar do nível de chumbo na urina ter sido um indicador de exposição ao metal, é importante ressaltar que esta concentração não representa com fidelidade o grau de absorção, já que os rins excretam quantidades elevadas de chumbo somente quando a concentração do metal no sangue for alta. Para pequenas concentrações do metal, a determinação da concentração de chumbo na urina será útil quando acompanhada de outros parâmetros. Em pequenas quantidades o chumbo pode ser também eliminado pelo suor, saliva, unhas e cabelo. O chumbo pode ser encontrado no leite materno em pequenas quantidades.

EFEITOS NO ORGANISMO

Sabe-se hoje que o chumbo afeta múltiplos órgãos e tecidos, principalmente cérebro, sangue, fígado, rins, testículos, esperma, sistema imunológico e pulmões.

EFEITOS BIOQUÍMICOS

Anemia, que ocorre somente com altos níveis de exposição.

EFEITOS NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Encefalopatias com irritabilidade, cefaléia, tremor muscular, alucinações, perda da memória e da capacidade de concentração. Esses sintomas podem progredir até o delírio, convulsões, paralisias e coma.

EFEITOS NO SISTEMA RENAL

Dano reversível no túbulo proximal e uma lenta e progressiva deficiência renal.

EFEITOS NO SISTEMA GASTROINTESTINAL

Intoxicações severas podem ocasionar constipação, diarréia e gastrite.

EFEITOS NOS OSSOS

Pode afetar o metabolismo do osso no período da menopausa na mulher, contribuindo para o desenvolvimento da osteoporose. O osso pode servir como biomarcador de exposições passadas, pois a meia-vida neste compartimento é longa.

OUTROS EFEITOS

Estudos epidemiológicos demonstraram que o chumbo está associado a deficiências neurocomportamentais em crianças. Os efeitos do chumbo na função reprodutora masculina limita-se a morfologia e ao número de espermatozóides. O chumbo não parece ter efeitos nocivos na pele, nos músculos e nem no sistema imunológico.

INSALUBRIDADE

A Portaria nº 3.214/78 do MTE, em sua NR-15 – ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES, anexo nº 13, assim registra:

AGENTES QUÍMICOS

“1. Relação das atividades e operações, envolvendo agentes químicos, consideradas insalubres em decorrência de inspeção realizada no local de trabalho. Excluam-se desta relação as atividades ou operações com os agentes químicos constantes dos Anexos 11 e 12.

CHUMBO

Insalubridade de grau máximo

Fabricação de compostos de chumbo, carbonato, arseniato, cromato mínio, litargírio e outros.

Fabricação de esmaltes, vernizes, cores, pigmentos, tintas, unguentos, óleos, pastas, líquidos e pós à base de compostos de chumbo.

Fabricação e restauração de acumuladores, pilhas e baterias elétricas contendo compostos de chumbo.

Fabricação e emprego de chumbo tetraetila e chumbo tetrametila.

Fundição e laminação de chumbo, de zinco velho, cobre e latão.

Limpeza, raspagem e reparação de tanques de mistura, armazenamento e demais trabalhos com gasolina contendo chumbo tetraetila.

Pintura a pistola com pigmentos de compostos de chumbo em recintos limitados ou fechados.

Vulcanização de borracha pelo litargírio ou outros compostos de chumbo.

Insalubridade de grau médio

Aplicação e emprego de esmaltes, vernizes, cores, pigmentos, tintas, unguentos, óleos, pastas, líquidos e pós à base de compostos de chumbo.

Fabricação de porcelana com esmaltes de compostos de chumbo.

Pintura e decoração manual (pincel, rolo e escova) com pigmentos de compostos de chumbo (exceto pincel capilar), em recintos limitados ou fechados.

Tinturaria e estamparia com pigmentos à base de compostos de chumbo.

Insalubridade de grau mínimo

Pintura a pistola ou manual com pigmentos de compostos de chumbo ao ar livre.