Pneumoconiose

PERÍCIAS TÉCNICAS

BOLETIM TÉCNICO – 71

A expressão pneumoconiose, de origem grega (pó no pulmão) descreve uma série de afecções pulmonares resultantes da inalação de poeiras ambientais profissionais e foi pela primeira vez empregada por Zenker ao estudar determinadas patologias que afetavam mineradores de carvão na Inglaterra.

Aceita-se hoje como pneumoconiose qualquer tipo de reação pulmonar à inalação de poeiras, sem qualquer relação com a gravidade ou a origem da impregnação embora, na prática, o termo seja adotado para doenças do trabalho em ambientes poluídos por variados tipos de poeiras patogênicas.

Embora alguns autores aceitem que nem todos os tipos de pós causem resultados patogênicos, sendo inertes ou de menor risco, a verdade é que toda partícula que penetre no aparelho respiratório é potencialmente danosa não existindo poeiras absolutamente neutras, já que para todas as que assim foram classificadas, sempre se identificou pelo menos um caso de doença.

Certas poeiras, em adição podem exercer papel antigênico, causando prejuízos por desencadearem reações imunitárias anormais enquanto há outras que predispõem o aparecimento da tuberculose e doenças malignas dos pulmões. Assim, cada tipo de pó deve ser considerado isoladamente no estudo do mecanismo de surgimento da doença.

Para efeito prático na atividade médico-pericial pode-se considerar como pneumoconiose toda doença pulmonar decorrente da inalação de poeiras em suspensão no ambiente profissional, levando a um estado de fibrose do tecido pulmonar de natureza irreversível, com prejuízos sensíveis para a capacidade ventilatória do trabalhador.

PROTEÇÃO

O organismo possui meios naturais de defesa contra a inalação de partículas que, habitualmente, impregnam o ar ambiental, sabidos de todos os médicos. Para começar, as vias aéreas, desde as fossas nasais até o menor dos bronquíolos, são permanentemente recobertas por abundante secreção mucosa que retém as partículas em tráfego entregando-as aos cuidados dos cílios vibráteis que, por movimentos ondulatórios retrógados encaminham-nas de volta ao ambiente de origem.

A estrutura das fossas nasais, com seus cornetos e anfratuosidades (saliências), levando a corrente aérea a chocar-se contra suas paredes, faz com que grande parte das partículas, sobretudo as maiores, ali fique depositada. Igualmente a parede da nasofaringe, antepondo-se frontalmente a corrente nasal, também serve de anteparo protetor à boa parte desses elementos estranhos.

Os reflexos incondicionados da tosse e do espirro, provocando correntes aéreas violentas e súbitas quando conduzidas pela excitação mucosa, exercem eficiente ação varredura.

Finalmente, as partículas que logram atingir os alvéolos são fagocitadas pelos macrófagos e, em grande parte, conduzidas através dos vasos linfáticos em direção aos gânglios de cadeia similar.

TAMANHO

O tamanho das partículas em suspensão é da máxima importância no mecanismo patogênico da pneumoconiose. As maiores tendem a depositar-se naturalmente no solo ou são primariamente retidas pelas estruturas protetoras da árvore aérea superior. Apenas as menores logram alcançar os alvéolos depositando-se em suas paredes. Segundo a maioria dos autores, são perigosas as partículas, cujo diâmetro oscila entre 3 a 5 micra, 92% das quais conseguem sempre atingir os alvéolos e os dutos alveolares. Tanto mais perigosas são as partículas quanto menores o sejam, as ultrafinas, com diâmetro de até 0,2 micra, funcionando como se fossem gases em suspensão, penetrando sem se fixar, nos alvéolos, ou podendo produzir fibrose.

A concentração dessas partículas no ar respirado é fator fundamental no estudo da patogenia da pneumoconiose. Segundo estudos do Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos, realizado em 1939, numa concentração de até 5 milhões de partículas por pé cúbico, menores de 10 micra de diâmetro, o homem pode viver e trabalhar durante toda a vida sem maiores danos. A concentração em que o trabalhador fatalmente contrairá a doença gira em torno de 100 milhões de partículas do mesmo tamanho e no mesmo volume de ar.