Gases Desprendidos em Operações de Soldagem

PERÍCIAS TÉCNICAS

BOLETIM TÉCNICO – 102

Nas operações de solda há desprendimento de gases cuja origem depende do processo usado, devendo ser levados em consideração os seguintes fatores: gás protetor usado, composição do revestimento ou da alma dos eletrodos, ação do arco elétrico formado, ou da radiação ultravioleta sobre os elementos constituintes do ar atmosférico e da decomposição de óleos e graxas que usualmente recobrem as chapas para evitar oxidação. Os gases mais importantes e seus efeitos sobre os soldadores serão discutidos a seguir.

ÓXIDOS DE NITROGÊNIO

Os óxidos de nitrogênio são formados pela oxidação do nitrogênio atmosférico por ação direta da alta temperatura do arco elétrico.

Os óxidos de nitrogênio são agentes irritantes pulmonares, que podem ocasionar a morte imediata por broncoespasmo e parada respiratória quando a exposição é intensa. Em outros casos, a morte ocorre por edema pulmonar e em outros, ainda, por bronquiolite fibrosa obliterante. Concentrações menos intensas ocasionam sonolência, enjôos e vômitos.

O tratamento é semelhante ao da intoxicação pelo ozônio, sendo muito útil a terapêutica hiperbárica.

DIÓXIDO DE CARBONO

É formado pela decomposição do revestimento ou da alma dos eletros e é usado no processo MAG como gás de proteção da solda. O dióxido de carbono é considerado como um gás asfixiante simples, ou seja, quando aumenta sua concentração reduz-se a do oxigênio, sendo esta deficiência de oxigênio que ocasiona o dano. Uma concentração de 10% de dióxido de carbono leva à inconsciência e ao óbito por redução da pressão parcial de oxigênio no ar respirado.

Mesmo a baixas concentrações, parece haver uma ação tóxica sobre a membrana celular e alterações bioquímicas como acidose, elevação do cálcio circulante e sua deposição nos tecidos, incluindo o rim.

O tratamento é feito afastando o intoxicado do ambiente e ministrando-lhe oxigênio, além de medidas sintomáticas, se necessário.

MONÓXIDO DE CARBONO

O monóxido de carbono origina-se da decomposição do dióxido de carbono usado ou formado nas operações de solda, especialmente no processo MAG que usa dióxido como gás protetor de solda. Quando junto às operações de solda há grande movimentação de veículos, o risco de atingir concentrações perigosas é muito grande, principalmente quando os veículos usam gasolina como combustível.

O monóxido de carbono é a causa mais comum de intoxicação por um agente químico, tanto na indústria como no lar. Milhares de pessoas morrem anualmente no mundo, vítimas deste gás.

A ação tóxica faz-se através da competição estabelecida entre o oxigênio e o monóxido de carbono para se ligar à hemoglobina. Como a hemoglobina prefere o monóxido (afinidade 240 vezes maior do que pelo oxigênio), forma-se carboxi-hemoglobina (COHb) no lugar da oxi-hemoglobina, levando a um bloqueio no transporte de oxigênio para as células, bem como perturbando o mecanismo de liberação do oxigênio de reserva nos tecidos. Além destes efeitos, o monóxido também se liga à mioglobina e forma a carboximioglobina, que traz como consequência distúrbios no mecanismo muscular. Este efeito se reveste de particular importância quando ocorre no músculo cardíaco.

Convém, ainda, acrescentar outros efeitos, todavia pouco estudados como a combinação com enzimas citocrômicas, alterando a respiração celular.

O quadro clínico varia de acordo com a concentração de COHb no sangue. Inicia com leve cefaleia com tensão frontal e leves dificuldades respiratórias. A concentração de 10 a 20% pode ser fatal para o feto e pessoas com distúrbios cardíacos severos. (Aqui é muito oportuno recordar que fumantes inveterados podem apresentar uma concentração usual de COHb em torno de 8%). Aumentada a concentração, surgem: cefaleia severa e pulsátil, face ruborizada, redução da destreza manual, vertigem, náusea e vômito. O quadro vai piorando com fraqueza, irritabilidade, perturbação de julgamento, convulsões, coma e morte quando a concentração ultrapassa 45% de COHb.

Nas exposições intensas (acima de 10.000 ppm) a morte ocorre em poucos minutos sem a evolução referida.

Os primeiros órgãos atingidos (órgãos críticos) são o cérebro e o coração. No coração, o resultado é a precipitação do infarto do miocárdio.

Nos estágios iniciais da intoxicação, a vítima apresenta-se pálida, mas logo depois aparece a clássica cor vermelho-cereja, consequência da alta concentração de COHb na pele, leito ungueal e nas mucosas. Esta coloração aparece quando a concentração de COHb ultrapassa 50%.

Constituem grupos mais suscetíveis: portadores de anemia e hemoglobinopatias, grávidas, hipertireóideus, pacientes febris, pacientes com insuficiência respiratória crônica, doentes cardíacos isquêmicos e arterioescleróticos (especialmente cerebrais).

Sendo o trabalhador anêmico mais suscetível, é importante ressaltar que o brasileiro apresenta, por deficiências alimentares e parasitoses intestinais, elevada prevalência de anemias crônicas que agravam o risco e dificultam o controle.

O tratamento da intoxicação consiste na remoção da vítima para ambiente não contaminado. Se não está respirando, deverá ser instituída respiração artificial boca-a-boca e, se necessário, massagem cardíaca externa. Administrar oxigênio pelo método disponível, sendo que a câmara hiperbárica é o tratamento de eleição. Devem ser evitadas drogas estimulantes e o paciente deve ser mantido em repouso absoluto por 48 horas.

Após a recuperação poderão ocorrer sequelas mentais do tipo irritabilidade, inquietação, delírio, depressão, ansiedade, alterações de personalidade e perturbações da memória.

GASES FORMADOS PELA DECOMPOSIÇÃO DE HIDROCARBONETOS CLORADOS

Os hidrocarbonetos clorados como o tricloroetileno, tricloretano, tetracloretileno e metilclorofórmio são muito utilizados como desengraxante de peças. Resíduos destes solventes ficam nas peças e no ar e, sob a ação de radiação ultravioleta ou do calor, são decompostos produzindo agentes altamente irritantes respiratórios, como fosgênio, cloreto de hidrogênio ou cloro (conforme o solvente usado).

INSALUBRIDADE

  • AVALIAÇÃO QUALITATIVA

A Portaria nº 3214/78 do MTE, em sua NR-15, Anexo nº13- Agentes químicos, assim verifica:

  1. Relação das atividades e operações envolvendo agentes químicos, consideradas, insalubres em decorrência de inspeção realizada no local de trabalho. Excluam-se cesta relação as atividades ou operações com os agentes químicos constantes dos Anexos 11 e 12.

OPERAÇÕES DIVERSAS

  • INSALUBRIDADE DE GRAU MÁXIMO

Operações com cádmio e seus compostos: extração, tratamento, preparação de ligas, fabricação e emprego de seus compostos,  solda com cádmio, utilização em fotografia com luz ultravioleta, em fabricação de vidros, como antioxidante, em revestimento metálicos, e outros produtos.

AVALIAÇÃO QUANTITATIVA

A Portaria 3214/78 do MTE, e, sua NR-15, Anexo nº 12. Limites de tolerância para poeiras minerais, assim registra:

MANGANÊS E SEUS COMPOSTOS (X)

  1. O limite de tolerância, para as operações com manganês e seus compostos referente a metalurgia de minerais de manganês, fabricação de compostos de manganês, fabricação debaterias e pilhas secas, fabricação de vidros especiais e cerâmica, fabricação e uso de eletrodo de solda, fabricação de produtos químicos, tintas e fertilizantes, ou ainda outras operações com exposição a fumos de manganês ou de seus compostos é de até 1 mg/m³ no ar, para jornada de até 8 horas por dia

(X) Acrescentado pela Portaria nº 8, de 05/10/1992