Quais os perigos dos fumos metálicos em operações de soldagem?

A operação de soldagem é corriqueira dentro das empresas. O que nem todo mundo sabe é o perigo que tal ação esconde. Isso porque dela resultam uma série de vapores e gases que podem fazer mal. Nesse artigo vamos ver esse assunto bem detalhado, incluindo os sintomas e tipos de intoxicação por cada agente. Boa leitura!

                                                        

Pois bem, como dito, nas operações de soldagem desprendem-se vapores e gases das peças em fusão, seja da superfície da pela, do eletrodo, do revestimento do eletrodo, de substâncias adicionadas à solda do tipo fluxos ou pós, seja de materiais que envolvem a peça, como, por exemplo, óleos protetores. Estes vapores e gases, em contato com o oxigênio do ar, após resfriamento e condensação, oxidam-se rapidamente, formando os fumos da solda, constituídos por partículas de 0,005 a 2µm.

Tais fumos constituem risco para a saúde dos soldadores. Sua composição varia em função dos processos de soldagem e do material utilizado. Nos processos MIG-MAG, os fumos desprendidos costumam ter em sua composição, além de resíduos da combustão incompleta de carbono, cádmio, alumínio, cobalto, cobre, ferro, magnésio, manganês, níquel, rubídio, silício, tetânio, vanádio, zinco, fluoretos, silicatos, etc. Esta composição pode variar bastante conforme se modificam os elementos referidos no início deste item.

Nos fumos metálicos provenientes da solda, a porcentagem de fumos com partículas de diâmetro maior que 1µm é muito pequena, em geral menor que 10%. Esta porcentagem é influenciada pela temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do ar na ventilação, assim como pelo método empregado. Na soldagem MAG com CO2 as partículas, por efeito térmico, colidem e sofrem um processo de conglomeração, elevando o percentual das partículas maiores de 1µm.

Os efeitos dos fumos metálicos são muito variados, pois sua composição abrange uma série de substâncias que envolvem riscos para a saúde. Nos itens que seguem será feita uma breve referência às principais manifestações patológicas decorrentes da exposição a fumos metálicos. 

 

COBRE

As intoxicações pelo cobre são raras, pois o organismo dispõe de mecanismos de eliminação do excesso absorvido. Estes mecanismos estão, porém, alterados nas pessoas com deficiências genéticas (par anormal autossômico de gens recessivos) que levam à degeneração hepatolenticular, conhecida por “Doença de Wilson”. Nesse caso, a absorção diária não deve ultrapassar 2 a 5 mg.

Fragmentos de cobre que penetram nos olhos podem ocasionar uveítes, abcessos e até a perda da visão.

 

CRÔMIO

O crômio reveste-se de grande significado nas operações de solda de aço inoxidável, porque o desprendimento de fumos nestes processos contém elevada proporção de crômio.

A exposição ao crômio, mais especificamente ao crômio hexavalente (ao qual estão expostos os soldadores de aço inoxidável), envolve risco de aumento da incidência de câncer de pulmão em relação à população geral. Os demais efeitos do crômio, como as dermatites, úlceras da pele e perfuração do septo nasal, estão mais relacionadas com exposição a névoas ácidas das operações de cromagem e não às operações de solda.

 

ALUMÍNIO

De pouco significado toxicológico nas operações de solda, o alumínio tem, contudo, sido relacionado, com fibrose pulmonar, bronquite e uma condição especial congestiva e anestésica dos dedos da mão (acroanestesia). A mortalidade por câncer de pâncreas e de rim é mais elevada do que a esperada.

 

FLUORETOS

Certos processos de soldagem, especialmente os que utilizam fluxo ou sais para recobrir a zona da solda, dão origem a fumos com compostos de flúor, porque na composição dos eletrodos há elevada percentagem de fluoreto de cálcio, podendo chegar a 70%. Nos fumos, tem sido encontrado 5 a 30% de fluoretos de cálcio, sódio ou potássio. 

A intoxicação crônica pelo flúor pode ter origem ocupacional ou ambiental (programas preventivos da cárie dental com adição, acidentalmente elevada, de flúor à água). Esta intoxicação caracteriza-se pela deposição do flúor nos ossos e ligamentos. Tal alteração é facilmente visível ao exame radiológico pelo aumento da densidade óssea e formação de excrescências, especialmente nas costelas, bem como calcificação dos ligamentos intervertebrais. Em alguns casos, observam-se manchas nos dentes.

 

FERRO

O óxido de ferro é o componente que participa com a maior proporção na composição dos fumos de soldagem. Dependendo do método e do eletrodo, essa participação pode chegar a 70%, como nos casos de eletrodos tipo rutílico com pó de ferro. Na soldagem pelo processo MAG, a porcentagem de óxidos de ferro oscila de 50 a 60%.

Tais óxidos não representam risco especial para a saúde, com exceção da siderose.

 

MAGNÉSIO

Os fumos de magnésio podem provocar febre dos fumos metálicos, mas, afora este efeito, o magnésio é considerado como de baixa toxicidade. Há referência a aumento de transtornos gastrintestinais. Quando fragmentos de magnésio penetram na pele podem ocasionar tumorações aeriformes. Por ser altamente inflamável, são comuns os incêndios e queimaduras que, pelas suas características de profundidade e destruição dos tecidos, necessitam de tratamento prolongado e complexo.

 

MANGANÊS

Reveste-se de importância por ser um dos componentes mais comuns nos eletrodos (junto com o ferro e cobre) e pela patologia que ocasiona.

Além da pneumonia, o manganês afeta os microssomos, especialmente os dos neurônios do sistema nervoso central. Este dano altera profundamente o equilíbrio neuropsiquiátrico. Os pacientes apresentam astenia, anorexia, cefaleia, vertigem, indiferença, apatia e alterações comportamentais com crises de excitabilidade, verbosidade excessiva e incoerente. A este quadro foi dado o nome de psicose mangânica. Porém, o aspecto mais grave desta patologia ocupacional são os distúrbios neurológicos: voz monótona, lenta e irregular, podendo chegar a um sussurro, fascies inexpressiva, gestos lerdos, dificuldades para correr e descer escadas, incoordenação de movimentos (disdidococinesia), incapacidade de andar para trás, tremores, escrita irregular e quase ilegível. Este quadro é irreversível e incapacita totalmente o trabalhador. Não se conhece tratamento específico, embora tenha sido tentado o uso de L-DOPA, mas com resultados pouco animadores.

O controle médico faz-se através de dosagens de manganês no sangue ou na urina, mas os resultados são de difícil interpretação, porque não guardam relação exata com a gravidade clínica do paciente. Um exame clínico cuidadoso, com ênfase nos sinais precoces de alterações neurológicas, é importante.

 

NÍQUEL

A ocorrência de fumos de níquel é maior nas soldas de aço inoxidável e nas ligas metálicas com componentes de zinco.

O níquel também pode ocasionar febre dos fumos metálicos, mas a manifestação mais comum são as reações de sensibilização da pele (dermatites), embora seus efeitos mais importantes sejam os carcinogênicos e mutagênicos.

 

CÁDMIO

A soldagem de ligas que contém cádmio expõe o trabalhador ao risco de concentrações elevadas de fumos deste metal. A intoxicação aguda pelo cádmio pode ocasionar problemas pulmonares muito graves. Na intoxicação crônica, além de pneumopatia, há alterações renais de gravidade com proteinúria e anemia. O paciente apresenta também descoloração do colo dos dentes e anosmia.

Intoxicações crônicas são causadas por longas exposições a concentrações levemente superiores ao limite de tolerância. O cádmio acumula-se no córtex renal, altera a função tubular e reduz a reabsorção de proteínas com o aparecimento de proteínas de baixo peso molecular com a beta-2-microglobina. Este aumento da excreção é usado como parâmetro de controle de expostos. Com o agravamento da doença, haverá perda de aminoácidos, glicose e minerais pela urina. O aumento da excreção de fósforo e cálcio perturba o metabolismo ósseo, favorecendo o aparecimento de calculose renal. Nos casos mais graves ocorre osteomalácia. Em intoxicação ocorrida no Japão, em áreas de alta concentração de cádmio, a população apresentou osteomalácia dolorosa com fraturas patológicas múltiplas. Essa doença é conhecida pelo nome “Itai-Itai disease” (doença dói-dói).

É importante ressaltar que estas alterações renais são irreversíveis e tendem a piorar, mesmo quando o trabalhador é afastado da exposição.

A exposição ao cádmio, em certas circunstâncias aumenta o risco de câncer de próstata e do trato respiratório.

O controle é feito através de exames laboratoriais: comum de urina, dosagem de cádmio na urina e de beta-2-microglobulina. Não há tratamento específico.

 

SÍLICA E SILICATOS

O revestimento de alguns eletrodos contém silício, às vezes em alta percentagem (até 30%) sob a forma de ferro-silicato, caolim, “feldspar”, mica, talco, etc. com os riscos pulmonares inerentes, embora não tenha sido encontrado sílica na fase cristalina (fibrogênica).

 

TITÂNIO

Considerado praticamente atóxico, embora possa eventualmente produzir fibrose pulmonar. Essa fibrose ainda não está relacionada casualmente cm a exposição ao titânio. Esse agente é constituinte de algumas ligas.

 

VANÁDIO

Também componente de certas ligas, o vanádio envolve riscos de intoxicação de gravidade. Após curtas exposições a concentrações elevadas, o trabalhador apresenta, lacrimejamento profuso, sensação de queimadura nos olhos, rinite sero-sanguinolenta, angina, tosse, bronquite com expectoração e dor torácica. Exposições longas podem levar a doença pulmonar crônica com enfisema. A coloração da língua torna-se esverdeada. Usualmente, a recuperação é completa desde que haja afastamento da exposição.

 

Vimos aqui a intoxicação por diversos materiais, mas faltou um, tão importante, que fizemos um artigo à parte: o chumbo. Clique aqui para conhecer mais sobre ele e os perigos que ele representa!