Pois bem, como dito no artigo anterior, nas operações de soldagem desprendem-se vapores e gases das peças em fusão, seja da superfície da pela, do eletrodo, do revestimento do eletrodo, de substâncias adicionadas à solda do tipo fluxos ou pós, seja de materiais que envolvem a peça, como, por exemplo, óleos protetores. Estes vapores e gases, em contato com o oxigênio do ar, após resfriamento e condensação, oxidam-se rapidamente, formando os fumos da solda, constituídos por partículas de 0,005 a 2µm.
Tais fumos constituem risco para a saúde dos soldadores. Sua composição varia em função dos processos de soldagem e do material utilizado. No outro artigo listamos diversos itens (cobre, crômio, alumínio, fluoretos, ferro, magnésio, manganês, níquel, cádmio, sílica e silicatos, titânio e vanádio – clique aqui para ler o artigo anterior). Agora, queremos chamar atenção para um único: o chumbo!
CHUMBO
Nas operações usuais de solda de indústria, a exposição ao chumbo não é muito frequente, com exceção da indústria eletroeletrônica. Mas é oportuno não esquecer que há chapas de aço revestidas de chumbo. Este metal também participa da constituição de ligas como bronze e, eventualmente, latão.
A intoxicação crônica pelo chumbo é, possivelmente, a patologia ocupacional mais conhecida e estudada.
O chumbo absorvido (principalmente por via respiratória e, secundariamente, por via digestiva) é retido pelos eritrócitos, de onde é transferido e fixado ao tecido ósseo devido à grande afinidade do chumbo a este tecido.
O chumbo causa vasoconstrição periférica e alterações no sangue e na medula óssea com graves perturbações na hematopoese, devido à ação do chumbo sobre o sistema enzimático formador da hemoglobina. O chumbo também interfere com a velocidade da condução do influxo nervoso.
Os principais sintomas são: redução da capacidade física, fadiga precoce, alterações do sono, mialgias, especialmente na região gemelar, sensação de desconforto abdominal, inapetência, emagrecimento, impotência sexual, etc.
Ao exame físico, é comum encontrar-se mucosas descoradas, palidez de pele, orla azulada nas gengivas (sinal de Burton) e dor à palpação abdominal.
Posteriormente, os sintomas digestivos pioram com o aparecimento de cólicas intestinais de grande intensidade, que podem simular abdome agudo cirúrgico, notadamente quando estas cólicas são acompanhadas de obstipação, distensão intestinal e vômitos. Este quadro costuma ocorrer precocemente, quando há exposição a altas concentrações do metal.
Quando não controlada, a intoxicação evolui para alterações do sistema nervoso. Afetando os nervos periféricos, ocasiona paralisia muscular, sendo a paralisia do nervo radial muito característica, evidenciada através do sinal da “queda da mão”. O mesmo pode ocorrer com a inervação dos músculos palpebrais, impossibilitando a abertura completa dos olhos. Embora rara, pode ocorrer uma encefalite causada pelo metal, com cefaléia, convulsões, delírio e coma, chegando a evoluir para óbito. Resta ainda referir que, nas intoxicações antigas, é frequente encontrar-se hipertensão arterial associada com arteriosclerose e esclerose renal.
O controle médico é feito através de exames laboratoriais como a dosagem de chumbo no sangue ou na urina e das alterações metabólicas no mecanismo formador de hemoglobina (ácido delta-aminolevulínico – ALA, ALA deidrase, coproporfirina, protoporfirina, zinco-protoporfirina), medida da condutividade nervosa etc.
O tratamento, em geral, leva à cura completa sem sequelas, bastando, na maioria dos casos, o simples afastamento da exposição ou do trabalho. Nos casos mais graves, pode ser indicada a administração de agentes quelantes, como o etilenodiaminotetracetato dicálcico (CaEDTA) ou a penicilamine. Tratamento sintomático pode ser necessário, sendo que para as cólicas saturnínicas, recomenda-se a administração de gliconato de cálcio, pois os antiespasmódicos usuais não produzem alívio satisfatório.